5 de março de 2009

Ossos da Ditadura - Por Tatty Nascimento

O sistema vigente, comumente, nos impõe à busca compulsiva pelo estereotipo, e pouco a pouco pessoas se integram a essa ditadura. Preferem adaptar-se ao invés de sentir-se supostamente fora de seu hábitat social. Índices comprovam crescimento no número de pessoas portadoras de anorexia e bulimia, essas que podem afetar até 20% das adolescentes de todas as classes sociais. Adotadas como a nova moda, essas disfunções de comportamento põem em extinção o sentimento de compaixão pelo corpo, adorando a magreza insana.
O paciente anorético costuma usar meios pouco usuais para emagrecer. Além da dieta é capaz de submeter-se a exercícios físicos intensos, induzir o vômito, jejuar e fazer uso de laxantes e diuréticos. O bulímico, por sua vez, possui uma compulsão que o leva a alimentar-se em excesso e, em seguida, regido pelo sentimento de culpa, tenta "compensar" o ganho de peso exercitando-se de forma desmedida e expulsando de seu organismo tudo que comera, além de também utilizar purgantes excessivamente.
Influenciados pela mídia, que padroniza a magreza absoluta como símbolo de beleza e elegância, parentes, vizinhos e amigos desenvolvem transtornos alimentares procurando se enquadrar nos valores estéticos da sociedade. Essa busca constante pela beleza irreal leva à falência de corpos fracos e mentes perturbadas que procuram a morte para calar sua dor.
Em vida, pseudo-amigos reúnem-se em comunidades de internet para compartilhar dicas, dietas e remédios em busca do sorriso no meio do caos. Supervalorizam corpos cadavéricos e os utilizam como inspirações. Projetam sua vida para a conquista de um baixíssimo Índice de Massa Corpórea (IMC), e acabam por baixar a auto-estima, vivendo no cárcere do padrão de beleza, sonhando um dia seu bem-estar e morrendo de inanição.
O tratamento da Anna (anorexia) e Mia (bulimia) torna-se cada vez mais difícil. As causas andam paralelamente, não há medicamentos específicos que restabeleçam a correta percepção da imagem corporal ou o desejo de perder peso nem antídoto eficaz para a falta de amor próprio.
Espera-se que o mesmo sistema e famílias influenciadas pela dor reúnam-se em busca de sonhos reais, construídos com paciência. Que essa doença não passe de uma ligeira epidemia. E que a ditadura da beleza ganhe novos governantes dotados de compaixão e reais conceitos humanos.



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Artigo publicado no Guia de Concursos Literários.
(www.guiadeconcursosliterarios.com.br/)

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